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Cabras, arte africana, sem autoria.
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Feira moderna de Caruaru
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Domingos Pellegrini Jr.
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1
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A carne-de-sol na sombra
das barracas de alvaiade
Quarenta cachorros magros
Ninguém pode ter piedade
C’uma costela de vaca
a fome toca rabeca
no coração da cidade.
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A feira dura três dias
não deixa sobra nenhuma
Cada velho cada menino
é doutor de economia.
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Um cego vendendo um bode
garante que produz leite
coalhada até requeijão
— Mas, cego, como é que pode?
O cego apenas responde:
— Hoje quem faz propaganda
não aceita discussão.
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2
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Mas cadê aquela feira
que irmão abraçava irmão
Fateira entregava a concha
pra mexer no caldeirão
Feirante botava a fruta
na boca do cidadão
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Se não gostou, não comprava
Se azedou, devolvia
Se não vendia, era dado
Freguês pagava outro dia
Morria, era perdoado
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Hoje são outros 500
São outros tempos, meu mano
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O cego vendeu o bode
— Vendi, e sem garantia
Tinha mais de 30 anos
não vive mais 30 dias
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Negócio tipo moderno.
Hoje aqui ninguém mais fia.
Quem pode, financia.
Quem não pode, vá pro inferno.
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Em: Poesia viva 2: a diversidade de nosso tempo na visão de cada poeta, coord. e sel. Moacyr Félix, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira:1979






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